Mineração urbana de lixo eletrônico no Brasil: por que desperdiçamos tanto, o descarte e o reaproveitamento dos eletrônicos

Em 2018, foi feita uma pesquisa pelo Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), com quatro estados mais o Distrito Federal, e foi revelado que 85% dos entrevistados mantinham algum tipo de equipamento, que não funciona mais, guardado em casa. Então, eu suponho que você que está lendo deve ter um celular que não usa mais, porém, deixa guardado na sua gaveta, ou ainda aquele computador que não funciona mais. Porém, você sabia que eles ainda são valiosos? Bom, se você ficou curioso sobre como essa infinidade de aparelhos eletroeletrônicos – computadores, impressoras, telefones celulares, entre outros – são descartados, e porque eles são tão valiosos, continua lendo esse artigo, que você descobrirá tudo e mais um pouco sobre a mineração urbana! Vem comigo!

O que é a mineração urbana?

A princípio, a mineração urbana pode ser definida como a transformação de produtos pós-consumo, em matéria-prima, com o objetivo de ser reutilizada na produção de novas mercadorias, evitando a necessidade da extração da natureza.

Analogamente, enquanto a mineração tradicional tira minerais da terra, a mineração urbana recicla e coloca novamente em circulação materiais que foram descartados pelos consumidores e iriam ser dispostos em aterros sanitários.

Isto é, ao passar pelo processo de mineração urbana, os minerais extraídos dos aparelhos são chamados de matérias-primas secundárias, cujo objetivo principal é diminuir o desperdício de recursos naturais e a diminuição das extrações da natureza.

Todavia, apesar de pouco explorada no Brasil, a mineração urbana tem um grande potencial econômico e ambiental.

A importância do descarte correto

Como você deve saber, é importante descartarmos o nosso lixo em locais apropriados, pois eles prejudicam não somente a saúde e o bem-estar humano, como também a fauna e a flora.

Por exemplo, de acordo, com a pesquisadora do departamento de saúde ambiental da Universidade de São Paulo (USP), Wanda Günther, a parte dos resíduos que não é gerenciada de forma adequada acaba causando problemas como ocupação de grandes espaços urbanos por aterros e locais de descarte inadequado.

Do mesmo modo, a contaminação do solo, os riscos à saúde humana e a necessidade de exploração de novos recursos naturais, enquanto os disponíveis são descartados, também aparecem como adversidades geradas nesse cenário.

Como acontece o reaproveitamento dos lixos eletrônicos?

Bem, o processo de tratamento que os resíduos recebem no Descarte Ecológico é mais complexo do que muitos imaginam. Agora você conhecerá as quatro etapas principais:

  • A retirada dos produtos;
  • A triagem (separação e classificação por tipo de resíduos);
  • A descaracterização;
  • Por fim, a reciclagem.

Cabe ressaltar que a etapa de descaracterização dos lixos eletrônicos, será onde as matérias-primas serão separadas para que passem pelo processo de reciclagem e possam ser reutilizadas de diversas outras formas pela indústria. Portanto, ao ser realizada, os resíduos poderão ser enviados para a reciclagem e reutilizados de forma segura. Ou seja, sem acarretar perigos de contaminação devido às substâncias tóxicas contidas neles.

Como extrair do lixo eletrônico?

Os materiais mais comuns considerados lixos eletroeletrônicos são: computadores, celulares, monitores, teclados, impressoras, câmeras fotográficas, aparelhos de som, TVs e fios. Porém, eletrodomésticos, telefones, carregadores, baterias, lâmpadas eletrônicas e pilhas também são. A seguir, você conhecerá algumas formas de extrair os metais deles:

  • Mecânica: Na reciclagem mecânica ocorre a diminuição do tamanho do material e a fragmentação por britagem e moagem. Em seguida, os resíduos passam por peneiras, classificadores mecânicos e ciclones, que classificam os materiais por granulometria. Por fim, passam por uma separação por densidade magnética; processos que separa os fragmentos magnéticos (como Fe, Ni) dos não magnéticos. O não magnético passa por uma separação eletrostática, separando materiais condutores de corrente elétrica (por exemplo: Pb, Cu, Sn) dos não condutores (polímero e cerâmico);
  • Química: A reciclagem química se dá pelo processo de hidrometalurgia. Nela, os metais são extraídos através da lixiviação ou dissolução do material em meio aquoso. É utilizada a chamada água-régia (composta por 75% de ácido clorídrico e 25% de ácido nítrico) ou o ácido-sulfúrico para separar os materiais desejados, obtendo-se frações pesadas (metais) e frações leves (plásticos e cerâmicos);
  • Térmica: É utilizada a pirometalurgia, que consiste em converter os metais em diferentes estados de pureza ao passarem por altas temperaturas. O processo exige grande quantidade de energia para incinerar as placas e obter um metal concentrado, que segue para outro processo de separação: a eletrólise;
  • Eletrólise: É o processo que refina os metais na eletrometalurgia, a partir de reações de oxirredução não espontâneas. Nela, o metal que está no ânodo se dissolve sob forma de íons metálicos e depois é depositado no cátodo na forma pura. Dependendo do metal que deseja ser extraído deve se usar o eletrorrefino ou a eletro-obtenção;
  • Biometalurgia: É o processo que utiliza micro-organismos que interagem com minerais, recuperando metais a partir disto. Já é possível recuperar com esta prática: cobre, ouro e cobalto. Porém, é necessário que o metal esteja disposto de modo que os micro-organismos consigam “atacá-lo”.
Figura 1: Peças de eletrônicos que contem minerais. Fonte: Reprodução.
Figura 2: Big bags com lixo eletrônico que será reciclado. Foto: Green Eletron

De antemão, mesmo reciclando, a tecnologia para fazer a reutilização dos metais preciosos é bem pequena no Brasil. Por isso, as recicladoras, geralmente, as encaminham para empresas europeias para que sejam reutilizadas em outras indústrias, como por exemplo, as de joias.

Quais são as vantagens de reciclar?

A reciclagem de resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos permite a redução do impacto ambiental causado pela exploração de recursos naturais no planeta.

Para vocês terem dimensão, apenas em 2019, a Green Eletron conseguiu extrair aproximadamente 100 toneladas de metais ferrosos (ferro fundido, aço e suas ligas) e não-ferrosos (cobre, estanho, zinco, chumbo, e outros), que foi reaproveitado pela indústria siderúrgica. Foram recicladas também cerca de 47,5 toneladas de plástico, fazendo que 69 toneladas de CO2 deixassem de ser emitidos.

A mineração urbana, onde ouro e prata são retirados dos aparelhos eletrônicos, é o novo futuro para a produção de joias. Foto: Daniel Kirsch / Pixabay

Quanto lixo eletrônico o Brasil produz?

É absurdo, mas o Brasil gera anualmente 1,5 milhão de toneladas de resíduos eletroeletrônicos, o que representa 3,4% dos 44,7 milhões de toneladas geradas no mundo. Os dados colocam o país na sétima posição entre os maiores geradores deste tipo de resíduo. No mundo, apenas 20% desse material é coletado e reciclado.

Figura 3: Fotos de vários eletrônicos desperdiçados. Fonte: Reprodução.

Onde pode ser feito o descarte do lixo eletrônico?

Você sabia que os fabricantes têm a obrigação de disponibilizar pontos de coletas ao consumidor?

No Brasil existe uma empresa recicladora, chamada Sinctronics, ela gerencia mais de 400 pontos de coleta no território nacional onde recebe em torno de 450 toneladas de materiais eletrônicos por mês. “Isso representa menos de 2% de produtos que as marcas colocam no mercado”, diz Mileide Alves Cubo, gerente de operação da companhia.

Figura 4: Recicla Sampa

Quais são os minerais/materiais presentes que podem ser reutilizados?

Como já foi mencionado anteriormente, os eletrônicos contem frações de vários materiais extremamente valiosos. A maioria destas substâncias está nas placas de circuito impresso (PCI).

Pode parecer pouco, mas a quantidade de metais é significativa se considerarmos, por exemplo, que a concentração de ouro existente no PCI é superior a encontrada no minério de ouro bruto. Emcada tonelada de resíduo de PCI é possível extrair 17 gramas de ouro. Já namineração de ouro a quantidade extraída varia de 0,4-12 gramas por tonelada de minério. Impressionante, não é?!

Isto pode ser visto, por exemplo, na mina Morro do Ouro, em Paracatu-MG, que opera com um dos teores mais baixos do mundo, segundo a revista Brasil Mineral.

De acordo com um relatório da Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Unep, na sigla em inglês), o reaproveitamento de uma tonelada de celulares renderia: 3,5 kg de prata130 kg de cobre e340 g de ouro.

Isso acontece porque na fabricação de boa parte de equipamentos eletrônicos são utilizadas matérias-primas preciosas como ouro, prata, chumbo, paládio, cobre e alumínio, que podem ser reaproveitadas por meio da mineração urbana.

Figura 5: Elementos químicos presentes nos componentes dos celulares. (Foto: www.blog.goo.ne.jp)

Como aprendemos na escola, esses metais são raros e possuem uma quantidade limitada no planeta Terra, por isso é importante reciclarmos.

A mineração urbana custa caro?

De acordo com um estudo da Comunidade Europeia, a reciclagem de recursos pode reduzir em torno de 20% a necessidade de entrada de materiais virgens até 2030 e uma economia potencial de mais de 600 bilhões de euros na indústria europeia entre 2012-2030.

No Brasil, estima-se que seria possível recuperar com a reciclagem do lixo eletrônico descartado no País em 2016 cerca de R$ 4 bilhões com a mineração urbana de quatro metais (cobre, alumínio, ouro e prata).

Sim, a mineração urbana precisa de um investimento da Indústria, comércio, governo e sociedade, mas também traz um grande retorno econômico e ambiental, principalmente considerando que em alguns anos as reservas de alguns metais podem se extinguir.

Benefícios da mineração urbana

Bom, pudemos perceber que a mineração urbana é importante, portanto, veremos alguns desses benefícios que a mesma é capaz de proporcionar:

  • Independência das extrações de matérias-primas da natureza;
  • Redução de preços dos materiais, pois serão constituídos de matérias-primas secundárias;
  • Impacto menor que a mineração tradicional sobre os recursos naturais;
  • Limitação de importações, já que as matérias-primas secundárias podem ser reutilizadas nos setores industrial e comercial;
  • Melhor gerenciamento dos resíduos, uma vez que se baseia na chamada economia circular;
  • Geração de mais trabalho e renda no ramo;
  • Facilidade de reutilização, pois não precisam ser refinados, apenas derretidos.

Conclusão

Conforme podemos observar, a mineração urbana contribui para a sustentabilidade, uma vez que abrange três pilares: social, econômico e ambiental.

Portanto, são necessários mais investimentos para que essa prática se torne cada vez mais acessível. Assim, de fato, ela poderá atingir seu potencial para a recuperação de matérias-primas secundárias a partir do descarte de REEE (Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos) no país e no mundo.


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2 comentários em “Mineração urbana de lixo eletrônico no Brasil: por que desperdiçamos tanto, o descarte e o reaproveitamento dos eletrônicos

  1. Carlos Roenick Responder

    Excelente artigo, parabéns aos integrantes da Cristal, alguns dos quais já tive o prazer de conhecer e ter contato.

    Estou preparando um material para divulgação em meu canal, o Mineração de Cabo a Rabo, e com certeza irei citar vocês como uma Empresa Jr com visão de futuro.

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